Há muito tempo, o continente americano é habitado por povos indígenas. Entre eles destacamos os tupi-guaranis, maias, astecas e incas. Cada povo indígena possui uma cultura própria, isto é, língua, crenças e um jeito próprio de trabalhar, pensar, relacionar-se com a natureza e com os outros povos.
Embora existam diferenças culturais entre as sociedades indígenas, como os traços físicos, a composição da língua (No Brasil existe pelo menos 180 línguas indígenas que podemos reunir em dois grandes grupos linguísticos, o Macro-jê e o tupi-guarani; todas desenvolveram práticas agrícolas e criações de animais, além de expressões artísticas de grande beleza.
Da mesma maneira, podemos também dizer que existem algumas semelhanças entre os diversos grupos étnicos que compõem os povos indígenas como o uso coletivo da terra e a divisão do trabalho por sexo e idade.
Assim, com diferenças e semelhanças, as histórias e culturas indígenas marcaram profundamente o nosso jeito de ser, nossos hábitos, nossa língua, o dia a dia do brasileiro. Grande parte dos animais, vegetais e lugares no Brasil tem nomes indígenas de origem tupi.
Os tupi-guaranis
Até o começo do século XVI, ninguém chamava de Brasil as terras que formam o nosso país. No entanto, essas terras já eram habitadas por povos com uma rica cultura e que desenvolveram atividades como a caça, a pesca, a coleta e a agricultura.
Dentre os povos indígenas, um dos mais conhecidos eram os tupis, que dominavam o litoral desde Iguape, no atual estado de São Paulo, até a costa do Ceará. Os tupis eram aparentados dos guaranis, que viviam nas regiões dos atuais Uruguai, Paraguai, norte da Argentina e sul do Brasil, desde a Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul, até Cananeia, em São Paulo.
Os tupi-guaranis, por sua vez, se dividiam em outros grupos, como os carijós, tupiniquins, tupinambás, tamoios, caetés, potiguares, entre outros. Esses nomes eram palavras indígenas utilizadas pelos portugueses para denominar os povos que encontravam.
Nessa faixa litorânea também encontramos povos não tupis, como os aimorés e os tremembés. Esses povos não tupis foram chamados de tapuias.
Território tupi-guarani
Os tupi-guaranis ocupavam longos trechos do litoral e do interior, acompanhando o vale dos rios. Assim, não é de se estranhar que esses povos fossem navegadores habilidosos. A área mais populosa do Brasil atual fica no antigo território tupi-guarani. Ali, foram construídas cidades como Rio de Janeiro, Vitória, Salvador, Aracaju, Maceió, Recife, João Pessoa, Natal, Fortaleza etc. No entanto, a população indígena se tornou minoria.
Sociedade e cultura
Para os tupis, a família incluía todas as pessoas da aldeia e não somente os parentes de sangue. As aldeias reuniam de 500 a 2000 pessoas, que moravam em casas coletivas chamadas de malocas. As aldeias situavam-se em lugares com água, madeira e alimentação farta; distribuídas entre quatro a oito habitações eram lideradas por um líder, chamado principal, que conquistava essa posição por ser corajoso e habilidoso na arte da guerra. Entre os tupis não existia um poder centralizado, exercido por alguém responsável por dar ordens aos outros e aproveitar-se de seu trabalho. Reunidos numa espécie de conselho, os principais, decidiam em conjunto o destino da aldeia. Os primeiros a serem ouvidos eram os membros mais corajosos, tratados sempre com muito respeito.
As mulheres eram responsáveis pela agricultura, pela preparação do cauim, bebida fermentada à base de mandioca, usada nos rituais da aldeia. Elas também cuidavam das crianças e da fabricação de vasilhas de barro utilizadas no preparo da comida. Aos homens estava reservado o preparo do terreno para a plantação, a caça e a guerra. Cada homem podia ter várias esposas, embora fosse comum ter apenas uma. Homens e mulheres se pintavam e usavam ornamentos. Os homens enfeitavam-se com ornamentos na cabeça, nos lábios e no pescoço, enquanto as mulheres adornavam apenas as orelhas.
Segundo as tradições tupis, os rapazes somente poderiam se casar quando caçassem um animal temido, como a onça, ou capturassem um inimigo da aldeia. A importância dos homens na sociedade era reforçada pelo mito de origem dos tupis. A cultura Tupi baseava-se em mitos como por exemplo, o da existência de uma “terra sem males”. Incentivado pelos seus xamãs, homens mais velhos que por meio de presságios e adivinhações podiam curar ou elaborar profecias, sendo os intermediários entre a comunidade e o mundo sobrenatural, procuravam uma terra ideal onde haveria fartura de alimentos, imortalidade e o direito de se vingar dos inimigos.
Os tupis consideravam a guerra uma luta e um ritual. Não tinham o objetivo de escravizar os vencidos ou exigir pagamentos de tributos. Mas os inimigos capturados podiam ser mortos e devorados em cerimônias ritualistas. Para realizar essas cerimônias, os tupis tratavam bem seus prisioneiros durante meses. Depois, o prisioneiro era executado, geralmente na época da colheita. Nessa ocasião, pessoas de outras aldeias eram convidadas.
Ao praticarem antropofagia ritual, os indígenas acreditavam que assumiam as qualidades do guerreiro sacrificado. Faziam o mesmo com a onça, animal que admiravam e temiam. Isso explica por que eles não comiam animais como o bicho-preguiça, que era lento e indefeso, algo que ninguém desejava ser.
Alimentação
A base da alimentação dos tupis-guaranis era a mandioca e o milho. Esses povos também se alimentavam de frutas, peixes, mariscos etc. As crianças ajudavam a conseguir alimentos como mel, ovos de pássaros, caramujos e caranguejos.
Os tupis procuravam estocar alimentos, sobretudo de farinha de mandioca e de peixe. Alguns desses estoques foram usados pelos primeiros europeus que chegaram ao Brasil. Como os navios quase nunca traziam comida suficiente para a viagem de volta, os portugueses faziam trocas com os indígenas e se abasteciam principalmente das farinhas que estes produziam.
Referências:
COTRIM, Gilberto; RODRIGUES, Jaime. Historiar: 7º ano. 2ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2015.
PROJETO ARARIBÁ: história/ organizadora Ed. Moderna. 3ª ed. – São Paulo: Moderna, 2010.
BOULOS JR. Alfredo. História Sociedade & Cidadania: 6º ano. 4ªed. São Paulo: FTD, 2018.