Você que é jovem dificilmente terá visto este personagem. Chamado de Zorro (raposa em espanhol), ele foi criado em 1919 pelo escritor americano Johnston McCulley. Surgiu como um romance, que depois foi adaptado para várias histórias contadas no cinema e na televisão. A história retrata uma espécie de vigilante mascarado que defende, na Califórnia espanhola do século XVIII, os mais pobres e os povos indígenas contra os funcionários corruptos, tiranos e outros vilões.
Na história, Zorro é a identidade secreta do jovem Don Diego de la Vega, filho único de Don Alejandro de la Vega, um nobre espanhol que era o maior proprietário de terras da Califórnia. Don Diego aprendeu a arte da esgrima quando estudava na Espanha. Seus estudos foram interrompidos quando seu pai o chamou de volta para o México, porque a California havia caído nas mãos de um tirano. Na história, Don Diego aparece morando em uma grande fazenda, com muitos empregados, numa espécie de caricatura do sujeito rico, fútil e covarde; mas, na verdade, era uma maneira que ele encontrou para não o identificarem com o herói mascarado que lutava contra os tiranos e os opressores do povo e que deixava nos seus adversários a sua marca pessoal: o Z de Zorro.
Apesar da história se passar quando o México já era um país independente, algumas das estruturas coloniais espanholas permaneceram e marcaram profundamente a sociedade. Então, por que isto aconteceu?
Sabemos que após as conquistas dos povos pré-colombianos os espanhóis dividiram as terras na América em vice-reinos e capitanias. Cada vice-reino era administrado por um vice-rei que respondia diretamente ao governo espanhol. Se durante o processo inicial de conquista da América, a Coroa espanhola deu certa liberdade aos particulares que para lá se dirigiram (os adelantados) para explorar a terra – desde que pagassem a Coroa espanhola 1/5 das riquezas que conseguissem-, com as enormes quantidades de metais que foram descobertos, a Espanha, com a criação em 1524 do Conselho das Índias, ampliou o controle da terra. Este conselho além de nomear os vice-reis, era responsável por assessorar o rei nas questões políticas e administrativas da colônia.
A relação entre a Espanha e suas colônias era baseada no Pacto Colonial, ou seja, a colônia exportava matérias-primas ou metais preciosos para a metrópole e comprava da metrópole os artigos manufaturados de que precisava.
Além dos vice-reinados, o governo espanhol estabeleceu em suas colônias na América os cabildos, instituições equivalentes às prefeituras, encarregados de cuidar das cidades e das vilas. Os cabildos eram administrados por um conselho municipal ocupado pelos criollos, nome dado aos descendentes e espanhóis nascidos na América.
Esse era o único serviço público que os criollos podiam ocupar, já que os altos cargos eram reservados aos peninsulares ou chapetones, ou seja, os espanhóis que viviam na colônia. Estes cuidavam, por exemplo, das Audiências, tribunais encarregados de fazer as leis e aplicar a justiça. Enquanto os chapetones e os criollos ocupavam o topo da pirâmide social e econômica da América espanhola, a população nativa e os escravizados trazidos da África ficavam na base. Para essa população, os espanhóis montaram uma vasta estrutura de exploração do trabalho, com diferentes denominações e características de acordo com a região e o período.
Enquanto os mestizos (descendentes de espanhóis com indígenas) e os mulatos (descendentes de espanhóis com negros) eram trabalhadores livres, aos africanos e aos nativos era imposto o trabalho escravo. A exploração da mão de obra nativa era feita também por dois outros sistemas: a encomienda e a mita.
A encomienda era um imposto sobre a população nativa, segundo o qual todo o indígena maior de 14 anos deia trabalhar para os encomenderos ao longo de determinado período do ano. Em pouco tempo esse tipo de relação transformou os nativos em verdadeiros escravos dos encomenderos. Essa situação era criticada pelos religiosos que vinham para a América converter os nativos ao catolicismo. Diante das críticas e preocupados em assegurar o recebimento dos tributos, a Coroa espanhola modificou o sistema de exploração. A partir de meados do século XVI, a encomienda passou a ser o pagamento de impostos e não mais o trabalho compulsório dos nativos.
Outra forma de trabalho foi a mita. Já praticada antes da chegada dos europeus, entre os incas, a mita era um tipo de trabalho rotativo e compulsório em prol do governo. Assim, cada chefe de aldeia levava, de tempos em tempos, um grupo de pessoas para trabalhar na irrigação agrícola, na construção de templos, estradas e outras obras públicas. Com a chegada dos espanhóis, a mita foi incorporada pelo colonizador. Cada região ou aldeia foi obrigada a fornecer um certo número de pessoas para trabalhar nas fazendas (haciendas) de fumo, cana-de-açúcar e cacau, nas estâncias de gado e cavalos e, principalmente nas minas de ouro e prata. A mita possibilitou que milhões de toneladas de ouro e prata fossem extraídas da América e enviadas à Espanha. Causou ainda a morte de milhões de indígenas, vítimas da exaustão e da violência a que estavam submetidos, além das doenças trazidas pelos colonizadores.
No final do século XVIII, com o declínio da mineração, a agricultura e a pecuária se desenvolveram ainda mais, aumentou o número de fazendas que produziam gêneros como cacau, açúcar e tabaco. Os trabalhadores dessas fazendas eram, geralmente, africanos escravizados, trazidos para a América em grande número desde o século anterior. A grande fazenda escravista produtora de um gênero tropical destinado a exportação é chamada de plantation. Este modelo econômico vai dominar toda a história dos países latinos americanos com fortes reflexos até os dias de hoje.