Imagine uma sociedade onde as crianças eram concebidas para servir a cidade e para fazer a guerra. A vida era tão dura que os homoioi, os cidadãos espartanos, cresciam comendo mal e viviam com fome, o prato típico e orgulho da cidade-estado era uma sopa à base de porco, vinagre, sal e (muito) sangue suíno, enfrentavam-se entre si e suportavam um treinamento militar intenso desde a infância. Se lembrarmos da morte de Leônidas, o lendário herói das narrativas espartanas, que com seus 300 guerreiros seguraram todo o exército persa de Xerxes, na famosa batalha das Termópilas, podemos entender um pouco sobre a coragem e a importância da vida militar para os espartanos.
Os filhos da elite da cidade tinham vida dura desde o berço. Isso se o bebê sobrevivesse ao parecer do conselho dos anciãos, pois aqueles fora dos padrões da cidade eram mortos, arremessados ou abandonados, no monte Taigeto.
Esta concepção de sociedade, muito diferente de outras da Antiguidade, foi estruturada sobre uma rígida organização social, econômica e política, tendo o seu início com a dominação dos dórios sobre os povos da península do Peloponeso, na região da Lacônia. Para garantir o poder aos descendentes dos dórios, foi elaborado pelo legislador Licurgo um conjunto de leis que acabou dividindo a sociedade em três estratos bem distintos: os esparciatas, os periecos e os hilotas.
Os esparciatas, descendentes dos Dórios, constituíam um grupo relativamente pequeno. Tinham a posse das terras mais férteis e reservavam para si a função de governantes, através de uma oligarquia (governo de poucos). Dedicavam o tempo aos exercícios e atividades guerreiras fazendo de Esparta um acampamento militar.
Os periecos eram descendentes dos aqueus e constituíam um grupo social quatro vezes maior que os esparciatas. Embora fossem livres, não tinham direitos políticos. Para manter a posse da terra, tinham de pagar impostos; dedicavam-se ao comércio e ao artesanato. Os hilotas descendiam dos messênios, povo dominado pelos dórios. Eram escravos e pertenciam a cidade de Esparta. Obrigados a trabalhar a terra, tinham de entregar grande parte da produção a família esparciata, que controlava a propriedade rural. Viviam em condições miseráveis e estavam expostos a todo o tipo de violência.
O governo de Esparta era exercido por dois reis (Diarquia), que cumpriam funções militares e religiosas. Seus poderes eram limitados pela Gerúsia, pela Apela e pelos éforos. A Gerúsia exercia o poder supremo e elaborava as leis. Era composta por dois reis e 28 esparciatas, com idade superior a 60 anos chamados de gerontes. Os gerontes tinham função vitalícia e eram escolhidos pela Apela, uma espécie de Assembleia, formada por esparciatas com menos de 30 anos. Esses cidadãos votavam na assembleia sem poder fazer uso da palavra, que era exclusiva dos gerontes.
Os éforos, em número de cinco, eram escolhidos pela Gerúsia e aprovados pela Apela. Tinham mandato de um ano e deviam, entre outras funções, fiscalizar os reis, cuidar da educação das crianças e aplicar a justiça.
Os esparciatas deveriam seguir uma disciplina extremamente rígida. Desde muito cedo, os meninos eram submetidos à educação dada pelo Estado (agogé). Quase todo o tempo deveria ser dedicado aos exercícios físicos e aos preparativos para a guerra. Depois de passar os primeiros 7 anos de vida com a família, os meninos eram enviados para centros de treinamento para serem educados e transformados em guerreiros. Até os 11 anos, o jovem espartano passava pelo primeiro ciclo, a meninice, em que recebia o treinamento militar básico.
O menino estava ali para aprender a manejar a espada, a lança e o escudo, além de praticar esportes como corrida e a natação. A alfabetização não era prioridade. O foco era a obediência, não a ler e escrever.
Entre os 12 e 30 anos, os jovens deveriam dormir em alojamentos coletivos, com companheiros da mesma faixa etária. Depois dessa idade, podiam casar-se e participar das decisões da Assembleia.
O esparciata ingressava no exército aos 20 anos e somente estaria dispensado do serviço das armas após completar 60 anos. Podia, contudo, ser eleito para tomar parte na Gerúsia. O principal dever das mulheres era dar à luz a filhos vigorosos. Embora fossem obrigadas a praticar ginástica, tinham bastante liberdade. Em virtude da prolongada ausência a que estavam sujeitos os homens, cabia às mulheres a administração dos interesses da casa. A elas, e não aos homens, era concedido o direito de praticar o comércio.
Fonte: BOULOS JR, Alfredo. História Sociedade & Cidadania. 6º ano. 4ª ed. São Paulo: FTD, 2018.
CHEROBINO, Vinicius. Agogé: A infância brutal em Esparta. https://aventurasnahistoria.uol.com.br/. Acesso em 14/09/20.
FIGUEIRA, Divalte Garcia. História. Série Novo Ensino Médio. 1ª ed. São Paulo: Ática.
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